Tchenguita
14 min readNov 24, 2021

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Eu vou ficar com os dois

Essa é a história de Nhamita e os seus dois amantes. Diferente da dona Flor, os dois estavam vivinhos da silva.

Mas… comecemos do início para não baralhar a cabeça do caro leitor!

Nhamita, mais uma vez diferente de dona Flor, não era uma mulher sensual, com vestidos colados ao corpo, decotes reveladores, com biquinho nos lábios ao falar como se estivesse a preformar e o andar teatralizado. Era simplesmente uma mulher de 23 anos, muito bem constituída sim, bonita, mas normal como qualquer moça da sua idade. Usava pouca ou nenhuma maquilhagem e a maior parte do tempo estava de calças jeans, t-shirts e ténis. Inteligentíssima – e ela sabia disso! – Nhamita estagiava numa empresa de renome quando conheceu Katy.

Katy era um rapaz esbelto, alto, com corpo de bailarino, movimentos afectados, ligeiramente afeminados – era isso exactamente que o tornava tão sensual –, olhos castanhos cor de pinho que lhe davam um ar desligado do mundo. Trabalhava numa startup em Talatona. Detestava o que fazia. Mas fazia. A vida estava difícil e não havia tempo para escolhas. Ou fazia o que aparecia ou morria de fome.

Conheceram-se num concerto numa dessas casas de culturas de Luanda – o narrador aqui presente não fará publicidade da casa, não foi pago para isso! Mas, continuemos…
Os jovens, trocaram olhares… Na verdade, é mais provável que tenha sido apenas o Katy. Nhamita era quase cega, apertava sempre os olhos para melhor ver, mesmo usando óculos, então, naquele momento era mais provável que ela estivesse a apertar os olhos para ver alguma coisa do que propriamente a olhar para Katy. No entanto, o rapaz aproximou-se, puxou conversa e descobriu uma mulher interessante. Que falava sobre cultura com propriedade e preocupava-se com questões sociais. Falaram como se conhecessem há séculos. Como se naquele lugar só houvesse os dois. E combinaram de encontrar-se no fim de semana seguinte. Pois, ambos trabalhavam demasiado e não teriam tempo para estarem juntos ao longo da semana.

Entretanto, graças à tecnologia, a ausência física não impediu a presença virtual. Conversaram durante a semana toda em meio a pausas durante o trabalho, nos almoços e de noite quando chegavam a casa. Nhamita já estava interessadíssima. Adiantou-se até às amigas entusiasmada de que finalmente havia encontrado o moço da sua vida. O seu príncipe desconstruído e não convencional.
Encontraram-se no final de semana a seguir. Jantaram, conversaram sobre livros. Katy era mais Achile Bembe. Nhamita, Toni Morrison. Amava a escrita de Morrison entre o inglês erudito e a gíria própria da cultura afro americana. Os seus gostos, apesar de diferentes pareciam completar-se. O príncipe encantado moderno parecia cada vez mais presente, mais concreto, mais seu. Por isso, foi um banho de água fria quando, durante o encontro, Katy lhe contou que tinha namorada e que a mesma estava na França a fazer o mestrado.

Com isso, Nhamita tomou a decisão de afastar-se, tornou-se mais taciturna, monossilábica com o rapaz. Katy, entretanto, investia mais, cada vez mais presente, cada vez mais atencioso. Nhamita não queria problemas. Katy, estava a procura-los. A insistência tornou-se cedência.

Depois de muito investimento por parte do Katy. Convidou-a para uma feira de artesanato e a moça aceitou. Durante o passeio, a verem os cestos, quadros, bolsas e estátuas, Katy desabafou a sua solidão e como a distância de mais de um ano abalava o seu relacionamento. Nhamita olhou para ele desconfiada, como quem estivesse a pensar “já conheço essa história”. Ainda assim respondeu condescendente:
- Não entendo como é um relacionamento a distância, mas te percebo.

Katy tinha uma retórica impecável, natural e persuasiva, usava recursos de oratória, mas os escondia muito bem, para não parecer artificial e sofista. Sabia que não estava a lidar com nenhuma ignorante. Por isso, teve muito cuidado com o seu discurso.

Até que conseguiu conquistar o coração da moça, e ela acabou por ceder. Com isso vieram as promessas de que ia deixar a namorada. Nhamita, apaixonada, acreditou. Mas a história do príncipe encantado moderno não durou muito. Depois de ter conseguido alcançar os seus objectivos, Katy começou a distanciar-se, a tratá-la com frieza, a feri-la com silêncios pontiagudos, silêncios sólidos, transparentes, afiados, silêncios-vidro. Isso fê-la sangrar. Como nunca havia sangrado antes. A jovem decidiu seguir a sua vida. Afastar-se. Recomeçar.

***

Passaram-se três meses, Nhamita estava ainda magoada. Chorava, mas lágrimas cada vez mais miúdas, cada vez mais escassas como serenos em tempo de seca. A ferida, já não sangrava demasiado. Foi no meio da desilusão e desalento que conheceu Cassanga. Havia sido transferida para os escritórios da cidade e Cassanga trabalhava na equipa de engenharia. Era do back-end, responsável por aplicativos e sites de muitas empresas de referência do país. Tinha a pele clara, de um castanho leitoso. Descendente de um avô português, o seu rosto fazia lembrar os homens etíopes, era mais fácil confundi-lo com um, do que associá-lo a um europeu, tinha 1,80, cabelos caracóis. Viciado em converses, games e animes. Amava xadrez, tinha um gosto musical duvidoso e fazia piadas sem timing. Inconveniente, às vezes. O que de princípio irritou Nhamita. Com o tempo a relação dos dois começou a mudar. Nhamita descobriu que apesar de irritante, Cassanga tinha um lado gentil. Notou isso quando se disponibilizou a dar-lhe boleia. No seu jeito de engraçadinho perguntou:
- Então, colega nova, vais para onde? Se fores aos lados do primeiro de maio, podemos ir juntos.
Nhamita olhou para ele meio surpreendida, mas ainda hesitante respondeu que sim.
Essa foi a primeira de muitas outras boleias, músicas portuguesas de duplo sentido e alta velocidade. A rapariga já havia ouvido que Cassanga estava prestes a casar-se, e por isso tomou as boleias como gentileza e amizade. Não deu demasiada importância.

Passaram-se um par de meses e a relação estava mais estreita. Até ao aeroporto, Cassanga já a havia ido buscar. A amizade estava cada vez mais tensa. Começava a cheirar a tesão, e esse desejo notava-se na maneira como ambos se tratavam, no toque apesar de polido e no mais revelador: o olhar! Porém, isso não o impediu de convida-la ao seu casamento e insistir mesmo depois de três recusas. Até que ela aceitou, mas nas vésperas do casamento pensou melhor e enviou uma mensagem ao rapaz "declino o convite". Ele ficou furioso, deixou de lhe falar. Casou-se, voltou da lua de mel e continuou sem lhe falar.
Até que um dia, Nhamita ficou presa no elevador do trabalho. Assustada, só gritava por Cassanga que apareceu e a socorreu. Por causa deste acidente e incidente voltaram a falar. Nhamita mais contida e Cassanga mais atirado. A relação de amizade voltou, a tensão entre os dois chegou a um ponto de ebulição. Então Cassanga confessou:
- Olha, eu gosto de ti e gosto da minha esposa. Não vou dizer que estou mal em casa, que as coisas não vão bem. Seria mentira. Estou numa fase boa com a minha mulher. Mas te quero.
Nhamita olhou para ele incrédula:
- E tu falas assim? Como se fosse a coisa mais normal do mundo?
Cassanga largou um sorriso matreiro, respondeu
-Sim. Gosto de ti e te desejo. Se tu me quiseres não vou negar. Mas se não me quiseres podemos continuar amigos. Sexo é só a cereja no topo do bolo.

Nhamita recusou categoricamente a proposta e disse que preferia manter a amizade pois não queria voltar a sofrer como havia sofrido, como lhe tinha explicado numa das viagens do trabalho para casa. Cassanga aceitou a amizade.
O tempo foi passando, entre as dúvidas dos seus sentimentos por parte da Nhamita e charmes por parte do Cassanga, chegou o dia da cereja no topo do bolo. Numa noite, Cassanga convidou-a a jantar no restaurante de um hotel caríssimo, Nhamita, não muito dada a feminilidades, mudou de look, foi com um smoking preto, os cabelos presos, e ténis azuis escuros – o quê? Estavam à espera que dissesse que foi de Vestido? Desenganem-se com essa rapariga – Cassanga ficou deslumbrado com aquela mulher! Durante o jantar, não parava de a elogiar, tudo parecia a favor de uma noite quente e assim foi: Nhamita e Cassanga ficaram juntos.

O que parecia ser apenas uma noite, alargou-se, começou a haver uma relação de cumplicidade e respeito. Um ficar com afecto, carinho e companheirismo. Ambos não sabiam dizer o que tinham. Eram namorados? Eram ficantes? Eram amantes? Eram amigos coloridos? Tinham medo de definir o que tinham. Preferiram viver o momento. Cassanga passou a conhecer tanto Nhamita que já sabia o seu ponto fraco, quando estivesse chateada levava comida para ela para fazerem as pazes. A rapariga amava. Quando ele apareceu tarde da noite, ela cansada depois de um dia cheio de trabalho e sem nada para comer, a moça suspirou com um sentimento agridoce, de felicidade por ele estar presente quando ela precisava e de tristeza por saber que era uma relação socialmente proibida e exclamou:
- É incrível, tu és a relação mais saudável que eu já tive
O rapaz respondeu a brincar:
- Que triste, a tua relação mais saudável ser com um homem casado.
Resignada e cabisbaixa, Nhamita respondeu:
- É…
Olharam um para o outro, abraçaram-se e entre a ternura e o carinho, Cassanga esperou Nhamita adormecer para se ir embora.

Uma relação vem acompanhada de complicação, nem sempre são flores, existem os espinhos. A convivência entre os dois começou a ficar também espinhosa. Discutiam com mais frequência, ficavam sem falar por curtos espaços de tempo, mas também se reconciliavam com fulgor e fogo próprio dos amantes, ou melhor, de pessoas que não sabiam o que eram. Mas chegou uma altura que tudo pareceu piorar e os dois em comum acordo decidiram separar-se. Nhamita trocou de empresa e ambos se distanciaram. Mais uma vez a rapariga viu-se sozinha. E acreditou que o amor não era o seu jogo de sorte.

***

O jogo virou e parecia estar do seu lado, depois de duas semanas separada de Cassanga, Katy voltou para a sua vida. E não podia faltar, claro, a famosa mensagem “oi, sumida”. Katy reacendeu em Nhamita o amor que parecia ser já cinza. No início a rapariga fez-se de difícil. Mas tudo o que viveram falou mais alto e decidiu recomeçar. O cinema, teatro, eventos culturais voltaram à rotina de ambos, o amor também. Mais maduro, mais intenso, com mais desejo e mais sexo. Tudo ia bem na vida da moça. Katy disse-lhe que havia separado da namorada por causa da distância, pediu-lhe desculpas e prometeu provar que valia a pena um voto de confiança. Nhamita deu, e tudo parecia correr nos conformes.

Até que, um dia, Cassanga também decidiu bater a sua porta, mas o que bateu foi a porta do coração da rapariga. Pediu desculpas, disse que sentia a sua falta e das memórias que partilharam juntos, Nhamita respondeu-lhe que não queria mais nada com um homem casado, estava feliz, sem, entretanto, mencionar quem lhe fazia feliz.

Cassanga, gentil como sempre, retirou-se, sem se deu por vencido, prometeu reconquistá-la. E começou a empreitada de presentes, ligações, atenções. O que balançou o coração da moça. Os acontecimentos pareciam começar a estar a favor de Cassanga. Numa noite, Nhamita ligou-lhe aflita. Parecia que durante aquele dia tudo estava a correr mal, terminou o expediente tarde da noite, energia havia ido no escritório, estava sem internet para chamar um táxi e o número do Katy dava desligado. Nervosa e stressada, a única solução foi o Cassanga. Pediu-lhe que a pegasse e o rapaz largou tudo para ter com ela. Foi o seu salvador. O nervosismo pareceu dissipar-se assim que o viu e para a sua surpresa veio acompanhado de comida, o seu ponto fraco. Conversaram ao longo do caminho.
Quando chegaram a sua casa, convidou-o a entrar. Ele aceitou. Ambos cruzaram os olhares e o desejo que os queimava desde que se conheceram mostrou que não havia se tornado fumaça. O sexo intenso que fizeram mostrou isso.

Depois disso, Nhamita parecia arrependida, expulsou Cassanga e não queria dirigir-lhe a palavra, confuso, arrumou as suas roupas e se foi, obedecendo a ordem dela.
No dia seguinte, Nhamita mal conseguia olhar para o namorado. Katy não entendia o motivo da tristeza da namorada e ela não conseguia explicar. Pensou que tinha que ver com o trabalho e por isso decidiu não a chatear. Nhamita, parecia sucumbir de remorso, nunca havia traído antes. Ficou com ambos, mesmo comprometidos, sim. No entanto, era solteira, sem compromisso com ninguém e sem ninguém para se explicar. Para ela, fidelidade era algo individual, era a pessoa que dentro dos seus princípios decidia não mentir a quem partilhava a cama e a vida. Quebrara o seu maior princípio e não se sentia bem com a situação.

Os dias passaram, e a moça recusava atender as ligações de Cassanga e responder as suas mensagens. Foi então que Cassanga decidiu surpreender-lhe em casa, numa noite de sábado. Bateu a porta, Nhamita, surpresa, perguntou-lhe num tom repreensivo:
- Que raios fazes aqui? – olhou para os lados para ver se alguém lhes via e puxou-o com brusquidão para dentro.
Ele, com um sorriso de alguém que estava a aprontar, respondeu.
- Vim te ver, é mal?
- Sim, é mal, vir a casa dos outros no meio da noite sem avisar!
- Senti saudades e como não estavas a me atender, apareci – levantou os ombros.

Cassanga era um homem sensual e sabia, conseguia seduzir-lhe só com o olhar e conhecia todos os seus pontos fracos e naquela noite usou todas as suas artimanhas, até que a moça caiu e já não havia como voltar atrás, pensou, em meio a gemidos.

E lá estava ela, a gerir dois relacionamentos, a amar dois homens com a mesma intensidade, a não saber quem escolher, sentia saudades dos dois na mesma proporção, queria os dois com a mesma vontade, durante o coito entregava-se com a mesma ferocidade, com o mesmo fogo, com a mesma paixão. Nenhum notava a diferença, cobrava a atenção de ambos com a mesma exigência, dava amor com a mesma entrega. Não queria ficar sem nenhum. Estava feliz e angustiada, sentia uma adrenalina forte sempre que tinha de se encontrar com um dos dois e isso tornava tudo mais intenso. A diferença de ambos a completava. Gostava da arte do Katy e da tecnologia do Cassanga. Queria o melhor de dois mundos.

No entanto, numa noite, um dos seus mundos ruiu, quando, ao pedir o telemóvel do Katy para fazer uma ligação. No momento em que desligou caiu uma mensagem da “ex namorada”, foi assim que descobriu que o rapaz não havia terminado com a ex. Furiosa, não pediu explicação. Decidiu fazer algo melhor…

***

Era uma manhã de domingo preguiçosa, havia chovido de madrugada, o clima era de uma ventania que embalava e de um cinzento claro no céu, um cinzento alegre, leve que pedia sono e comida na cama. Diferente do tempo, o cérebro da Nhamita estava agitado, com os pensamentos por alinhar e o sangue a fervilhar. Andava pela sala de um lado para o outro em monólogos curtos, com o olhar para baixo, a olhar para o nada, nem o chão dos seus pés parecia ver.

Bateram a porta, ela sobressaltou-se, parecia em alerta, recobrou os sentidos e a atenção voltou ao momento em que estava. Foi abrir, era Cassanga. Tentou beija-la e ela esquivou-se. Ele achou estranho, mas entrou mesmo assim, depois do seu pedido. Pediu-lhe para sentar-se. Segundos depois, alguém bateu novamente a porta. Cassanga perguntou:
- Estas à espera de mais alguém?
Nhamita hesitou em dar a resposta e foi directo à porta, era Katy. Tentou beijar-lhe e mais uma vez esquivou-se e pediu-lhe para entrar. Entrou e deparou-se com Cassanga. Ambos se encararam, como dois búfalos a farejar o seu território. Katy, de pé, levantou a sobrancelha, desconfiado. Cassanga, sentado, enrijeceu os músculos, abriu o peito e ergueu a cabeça. Nhamita ergueu também a cabeça, para transmitir segurança, pediu que Katy se sentasse, ele obedeceu.

De pé, Nhamita declarou:
- Chamei-vos aqui porque preciso conversar com os dois.
Os dois rapazes sentados, tentaram pronunciar-se, com os tons ligeiramente exaltados, mas controlaram a curiosidade e a confusão. A moça pediu-lhes que se calassem pois não havia terminado. Obedeceram, mas contrariados. Ela conhecia-os bem. Ambos eram educados, por isso estava segura, nenhum era violento e acima de tudo respeitavam-na.
Continuou.

- Katy, apresento-te o Cassanga, meu namorado
Katy olhou para os dois surpreso e indignado, mas decidiu conter-se. Não valia a pena exaltar-se naquele momento.
- Cassanga, apresento-te o Katy, também meu namorado.
Cassanga, mais impulsivo, levantou-se sobressaltado, isso fez com que Nhamita erguesse a voz de modo mais assertivo:
- Peço-te que te sentes!
Surpreso com o posicionamento da moça e surpreendido por estar a obedecer involuntariamente, Cassanga sentou-se.
Nhamita deu continuidade à palestra:
- Convidei-vos para esse encontro, para tomarmos algumas decisões. Como direito inerente a todo ser humano livre, vocês têm a liberdade de recusar – Olhou para ambos, que pareciam incrédulos, sem acreditar no que se estava a passar.
Mas continuou ainda assim:
- Cassanga, tu me fazes feliz, és atencioso e fazes as minhas vontades. Já fizeste até o impossível para me agradar. És a minha relação mais saudável – deu uma pausa – entretanto, és casado…. Cassanga tentou responder, ela fez um gesto e ele calou-se.
- Katy, tu também me fazes feliz, partilhamos os melhores momentos juntos, gostamos quase dos mesmos assuntos, as mesmas músicas, os mesmos tipos de livros – suspirou – No entanto, tu tens namorada! – sentenciou acusatória –.
Desta vez foi Katy a sobressaltar-se, surpreso, como alguém que fora apanhado com a boca na botija. Balbuciou algo imperceptível. Nhamita não lhe deu tempo, pediu-lhe que se calasse e lhe deixasse continuar. Cassanga também fez um gesto para acalma-lo. Katy obedeceu a ambos.
Nhmita deu continuidade à palestra:
- Porém (e é um grande, porém), eu gosto dos dois, gosto das nossas relações e quero continuar, mas sem mentiras, ambos se conhecendo, acima de tudo a respeitarem-se. A me proporcionarem a mesma felicidade de sempre e a não me aquecerem a cabeça. É assim, estão à vontade para recusar, saírem daqui e nunca mais me dirigirem a palavra. Vocês já me conhecem, não vou correr atrás de ninguém e vou seguir com a minha vida. Vocês têm as vossas vidas fora daqui e não precisam de me mentir. A elas, vocês é que sabem o que vão dizer, não é da minha conta, não me interessa. Vocês voltam porque sabem que eu vos faço genuinamente feliz- sem aparências no instagram ou textões de casal feliz no Facebook. Nós partilhamos uma felicidade real, longe de olhares e julgamentos alheios. E eu tenho preguiça de vos gerir, vou ser sincera, por isso, se quiserem continuamos. Se não, tudo bem, adeus!
Os dois começaram a suar, sem conseguir dizer uma palavra, incrédulos com audácia daquela mulher, admirados, e com uma pitada de respeito, pela coragem que nenhum dos dois pareceu ter. Não sabiam o que fazer. Pensavam no que as pessoas iam achar se descobrissem. Na confusão que era aquilo tudo. Era um trisal com suplentes. Ambos tinham outras relações. Ainda assim Nhamita estava disposta a ficar com eles. Naquele momento, eles se aperceberam quem mandava na relação e quem realmente eles amavam. Aquela mulher que os desafiou e desafiou o mundo. Que queria ficar com os dois e colocou a sua verdade acima de qualquer convenção.
Relutantes ainda. Nhamita abriu a porta. E disse:
- Se não quiserem, a porta está aberta! Podem ir.
Cassanga levantou-se hesitante, caminhou em direcção a porta, mas parou e decidiu recuar voltou a sentar-se. Katy permaneceu sentado. Apesar de tudo, ele parecia curioso. Queria ver no que aquilo tudo ia dar. Ambos se entreolharam e a gaguejarem, falaram em simultâneo:
- Aceito!
Nhamita deu um olhar triunfante e um sorriso leve no canto da boca, ergueu a sobrancelha e disse:
- Muito bem, aqui começa a nossa relação três mais duas. Já sabem, nada de me trazerem doença e nada de levarem doenças as vossas esposas. Isso aqui não é nenhuma orgia. Responsabilidades a dobrar!
Os dois assentiram.
E foi assim que Nhamita amou dois homens por igual. Até um dia! Pois nada dura para sempre!

Fim!

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