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Tchenguita
2 min readOct 24, 2021

Ainda penso em ti. Penso em ti e sinto raiva. Uma mistura latejante entre angústia e agonia.
O tempo passa e a ferida parece sangrar cada vez mais. Uma cura regressiva. Não há crostas. Acho que as crostas se descacaram. As crostas eram a ferida de início. Quando te conheci e me afastei. Por isso não sarou e quando voltaste abriu-se como uma Vulva. Sangrou como um útero depois da morte dos seus óvulos. De lá para cá tem sangrado todos os dias de Deus, ou talvez de uma Deusa, pois apenas ela compreenderia tamanho desalento em noites de lua cheia.

Quando eu ouço sobre uma máquina de escrever. Um conto. Uma crónica ou um delírio. Penso em como podia ser. As nossas noites quentes no frio da Huíla - apesar de teres uma corrente de amor no tornozelo que não te deixa sair de Luanda - numa casinha na Humpata a volta de plantações de morangos. Eu com a tua camisa a corrigir os teus contos decadentes enquanto partilhamos a mesma taça de vinho e a mesma tábua de queijos. De vez em quando a levantar o sobrolho e tu calmo mas com os olhos inquietos. Até agora não consegui encontrar quem se encaixasse perfeitamente no Booker e talvez esta será a minha peregrinação no mundo: tentar substituir-te.

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